quarta-feira, 25 de novembro de 2009

[Resenha] Uma Onda no Ar - Helvécio Ratton

Uma onda no ar é a história da criação e do desenvolvimento da Rádio Favela de Belo Horizonte - "a voz livre do morro", como a chamavam seus idealizadores. A rádio entrava no ar todos os dias no horário da Voz do Brasil. A tática foi descoberta porque as ondas da rádio iam além da favela. Isso incomodou as autoridades e Jorge, um dos idealizadores da Rádio que é negro e morador da favela, foi perseguido e preso pela polícia. Atrás das grades, foi questionado por outro detento sobre como foi criação da Rádio.

O racismo é mostrado em diferentes momentos. Um dos episódios mais marcantes de discriminação racial acontece na escola. Jorge tinha uma bolsa para estudar num colégio da elite de Belo Horizonte, pois sua mãe era a faxineira da escola. Durante a apresentação de um seminário sobre a libertação dos escravos, os alunos afirmam que a Lei Áurea teria resolvido de forma definitiva a questão do negro na história do país. Ele discorda, dizendo que Lei Áurea não representou definitivamente a liberdade para o negro, questionando a situação dos descendentes dos escravos atualmente.

O desenrolar desse episódio, ao mesmo tempo em que despertou raiva, estimulou o rapaz a refletir sobre sua luta. O racismo, mascarado pela idéia de que no Brasil não existe discriminação racial e a condição de exclusão social, da qual ainda partilha boa parte da população negra, foram alguns dos principais motivos que estimularam a iniciativa da criação da rádio.

As músicas mostram uma conexão entre diferentes universos tratados no filme: a política, a polícia, a favela, a escola, a rádio e o crime. No final do filme vem a recompensa: a emissora deixa de sofrer pressão política para seu fechamento, e recebe um importante prêmio da ONU – Organização das Nações Unidas, pelo importante trabalho realizado na comunidade.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Projeto Bem Te Vejo: Um trabalho social e especial

O projeto “Bem Te Vejo”, localizado no bairro de Jardim América, zona norte do Rio de Janeiro, foi idealizado por Rogerio Barboza e Janaina Cavalcanti. Ele deficiente físico devido a paralisia infantil e ela mãe de um deficiente físico de apenas 11 anos. Por saber dos direitos e conviver com as necessidades e dificuldades dos deficientes resolveram se juntar em prol da defesa, formação e informação das pessoas assistidas pelo projeto e de suas famílias. O projeto, que foi criado em 2005, não cobra mensalidade. Para a realização das oficinas, cursos, atividades e eventos eles contam com o apoio de voluntários e amigos. Seu trabalho destina-se, também, à promoção, à não discriminação e à inserção dos deficientes, criando na comunidade uma cultura de inclusão.
Entre os cursos oferecidos estão: Cursos de Braille para portadores de deficiência visual e para a comunidade; Oficina de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) para os deficientes auditivos, suas famílias ou para quem pretende ajudar e trabalhar com deficientes; e o Curso de Capacitação para Educação Especial, que é destinado aos profissionais da educação. Além dos cursos são oferecidas palestras informativas, eventos esportivos na Praça Santa Rosa de Lima com handebol e basquete, ambos na cadeira de rodas. Outras atividades que os deficientes têm direito são as visitações a museus, teatros, cinemas, participação no programa Criança Esperança e no Carnaval – no sambódromo assistindo aos desfiles do grupo especial e com um bloco, o “Senta que eu te empurro”.
Elizabeth Ferreira, 51, merendeira de uma escola municipal do bairro, diz que os eventos e passeios promovidos pelo projeto mostram os talentos de alguns deficientes, além de proporcionar diversão para eles. “Eles fazem eventos na rua, trazem o Gabrielzinho do Irajá, grupos de dança de rua da Lapa, as turmas das oficias de libras fazem apresentações de musica para os deficientes auditivos, deficientes visuais se apresentam cantando e dançando. O projeto leva as crianças pro Criança Esperança, pro teatro no CCBB, pra vários passeios. Através desses passeios que as crianças saem de casa e os pais também.” – conta Elizabeth que é a cozinheira oficial das festas e porta-bandeira do bloco. Ela diz que as mães também são beneficiadas pelo projeto e que o convívio com a sociedade melhora, pois elas aprendem mais sobre os filhos – “Muitas das mães dos deficientes ficavam em casa porque achavam que seus filhos não podiam ter contato com ninguém. Depois que entraram para o projeto, essas mães começaram a sair, inclusive em viagens promovidas pelo próprio projeto, pra Ouro Preto por exemplo. Para essas mães fez muito bem.
O projeto contam também com acompanhamento Psicológico aos deficientes e seus familiares, atendimento de Psicopedagogas e de Fisioterapia. Os deficientes têm tratamento ortopédico, neurológico e respiratório. O trabalho fisioterápico começou há nove meses, envolve praticamente todas as deficiências e é realizado em um consultório dentro da Paróquia Santa Rosa de Lima pelo fisioterapeuta voluntário Felipe Oliveira. Ele conta com a ajuda dos moradores do bairro para o transporte dos deficientes até o consultório e muitas vezes recebe desses colaboradores doações de cadeira de rodas, material e dinheiro para continuar o trabalho que é muito importante para o desenvolvimento dessas pessoas.
A fisioterapia é fundamental pro paciente ter um melhor dia-a-dia, um melhor bem-estar. As vezes até preventivamente pra que ele não tenha qualquer tipo de sequelas ou retardamento por causa da deficiência. É fundamental para que ele possa viver a vida dele o mais normal possível.Com certeza. A sociedade hoje em dia recebe esse paciente, esse deficiente, de uma maneira melhor, mas ainda tem muito a melhorar. E a partir do momento que eles têm uma capacitação melhor, um desenvolvimento melhor a sociedade recebe eles também de uma maneira mais tranquila.” – explica o fisioterapeuta de 28 anos. E ele continua – “O tratamento não é só aqui na sala de fisioterapia, ele é continuo, é praticamente o dia inteiro. Não depende do tipo de patologia, pra todos os casos é um tratamento continuo. Começa aqui e continua em casa. Os familiares se envolvem com o tratamento, participam, fazem atividades em casa. A gente recebe um carinho muito grande dos familiares. Pelo tipo de trabalho que é feito, são pessoas que não tem condição financeira de procurar um tratamento particular.

Carinho e alegria é a recompensa dos voluntários

Elizabeth e Felipe concordam quando o assunto é o convívio com os deficientes. Para ambos a aprendizagem, a alegria e o sorriso deles são muito valiosos. Elizabeth diz que para ela eles são especiais – “Eu aprendi que eles não são deficientes, os deficientes somos nós. Eles são especiais, são dóceis, eles são melhores do que a gente. Antes do contato com o deficiente muitos tem discriminação, eu nunca discriminei, pois sempre convivi com essas crianças. Sempre trabalhei em escola que tem turmas especiais. Eles ensinam muito pra gente, porque essas crianças vivem. Eles têm uma alegria que não tem explicação, eles brincam, eles riem. Pra mim eles não são deficientes, eles são normais.
Felipe fala que alem do ganho pessoal, ganha conhecimento profissional – “Eu aprendi muito com os deficientes. Na verdade eu falo que eu ganho mais deles, do que o que eu dou pra eles. Eles me ensinam muito. Ás vezes um sorriso, um carinho que o deficiente te dá num dia que você não está se sentindo bem é muito bacana. É muito legal, num dia que você está preocupado com seus problemas pessoais, você vê um deficiente que te dá o maior carinho, feliz independente do problema dele. Fora o crescimento como profissional, eu estou sempre aprendendo com cada patologia, com cada deficiência. A cada dia eu estou sempre acrescentando uma coisa nova na minha experiência como profissional.